quarta-feira, 28 de março de 2007

TRABALHAR PARA MORRER!

Trabalho em uma empresa sem noção, a maior em número de clientes insatisfeitos - tanto na telefonia que é a sua área, quanto qualquer outro segmento empresarial.

Sou estudante de Jornalismo e definitivamente aquele lugar não é para mim. Estou lá ha alguns anos e vi muita gente entrar, sair, entrar novamente e o processo se repetir por algumas vezes. Gente se estressar levantar, largando tudo e pedindo demissão, gente jogando teclado para cima e entrando em prantos pavorosos ou ainda ficando inválidos por LER (Lesão por Esforços Repetitivos), hérnia de disco, problemas neurológicos entre outras enfermidades.

Quero pirar fazendo alguma coisa que eu goste, morrer de aneurisma em uma redação, tremer os joelhos quando for fazer a minha primeira tele-reportagem ou ver minha pauta cair inexplicavelmente.

Telefonia celular é uma área desacreditada, pelo menos a que eu trabalho é extremamente desacreditada, pelos clientes e funcionários que vivem um processo de flagelação, dependentes do maldito salário mínimo, pois não há mercado, a realidade é dura, mas é fato.

Assistir BA TV me da nojo, mas até aceitaria um estágio na maldita empresa de ACM. Não seria nada mal trabalhar no caderno de cultura do Correio, que na minha opinião é o melhor caderno de cultura de todo o Norte /Nordeste. Mas a realidade é outra e tenho que ficar escutando filhos da puta dizendo que eu comi os créditos deles, imagina eu comendo créditos.

Começo a trabalhar as sete da matina, mas já trabalhei durante a madrugada também. Quando entro na empresa é como se uma nuvenzinha acompanhasse minha cabeça, o atendimento que antes era prestado com no mínimo de tolerância e respeito ao cliente, hoje já não é assim.

Sou cliente de diversos serviços, e te garanto que a punição a quem não me agrada, seja na qualidade dos serviços, atendimento, preço, é muito alta. Simplesmente abdico daquilo buscando outras saídas, não apareço, não piso mais os pés e pronto. Pode ter certeza que de grão em grão a galinha enche o papo, e de clientes insatisfeitos a clientes insatisfeitos a empresa vai a falência. Mas não é assim que ocorre, existem clientes que já estão ha cinco anos brigando com a empresa, e sendo clientes, numa ligação quase carnal de amor e ódio. Eles já conhecem todos os funcionários e horários de trabalho deles, bem como do supervisor de cada área e cada horário.

Uma pessoa logo após trabalhar em um call-center, certamente não é a mesma. Conheço indivíduos que saíram da maldita operação e ainda sim estão ligados diariamente com o assunto, relembrando o caso assim como estou fazendo agora.

A revista Caros Amigos, número 118, de janeiro de 2007, publicou uma matéria de João de Barros, descendo o cacete nesta maldita empresa que eu trabalho, falando da insatisfação dos clientes e funcionários, da “embromation” que utilizam e de que somos obrigados a passar aos clientes que não entendem a nossa posição e acabam por nos descascar. Contatados pela revista, a assessoria de imprensa avisa que a empresa tem um índice altíssimo de aceitação e resolução dos problemas reclamados. Quem resolveu esses problemas? Onde estão os clientes satisfeitos? Eu não resolvi problema nenhum.

Imágem: http://www.caixadefantasia.com/pnet/fotografia/wpphot05-12.jpg

*Leonardo Parente

Um comentário:

Rafael disse...

Adorei esse seu texto, Léo! Você foi bem claro, e acho que retratou o dia-dia de muita gente! Me vi em suas palavras...
O blog tá muito legal! Parabéns pra vocês...
Abs...