Tento concentrar-me para começar a escrever algo, seguindo os conselhos que Milena Brasil havia descrito no texto anterior, dica de um escritor, acho que trata -se de Charles Bukowski, onde ele disse que a melhor inspiração para escrever é escrever, ou seja, uma palavra puxa outra. Mas, se existe uma coisa que me irrita é barulho, principalmente os que não saia de uma guitarra, que seja no lugar errado e na hora errada.
Trabalho e estudo no Centro de Salvador e nesse exato momento em que escrevo, uma passeata segue a Avenida Sete de Setembro. São manifestações contra o arrocho salarial, enquanto isso, uma loja de confecções que dispõe de duas caixas gigantes de som na sua porta, toca arrocha bastante alto pra chamar a freguesia. Do meu lado o presidente da minha instituição fala aos berros com alguém que o irritara, paralelo a isso tudo, o “Word” fecha a todo o momento, depois de disparar na tela uma caixa exibindo uma crítica de erro, tudo corre contra, mas mesmo assim eu não desisto e continuo escrevendo.
E por falar em centro de Salvador, devo dizer que já estou sinceramente de saco cheio. A todo o momento explodem manifestações sem sentido, sem embasamento, sem organização, sem alma. Comerciantes que buscam eternamente algo que nunca alcançam, negros radicais que brigam contra a aprovação da lei da maioridade penal, sob justificativa que isso atinge diretamente a população negra. Ora bolas me economize. Sem contar nos camelôs que tomam as ruas vendendo DVD de três reais, maçã de um real, pano de prato, presilha, boné, a porra toda.
As pessoas não reparam por onde andam, chocando-se contra você o tempo todo, hipnotizam-se por vitrines, entopem os shoppings, mesmo sem ter nem um centavo no bolso pra comprar um chiclete big-big ou acotovelem-se pra ver Hollifield ou Zebim numa transmissão ao vivo para a TV Aratu, no programa do Bocão, mesmo que para isso precise chegar atrasados em seus trabalhos, levar “mijada” do patrão e ainda reclamar que é incompreendido e “ômilhado”.
Tenho pena da população baiana. Se você parar no meio da rua e começar a plantar bananeira é um motivo para que logo se aglomere uma multidão ao seu redor, curiosos em presenciar tal feito, mesmo que eles não entendam bulhufas do que está acontecendo e na maioria das vezes é isso que acontece, tanta gente se aglomera ao redor de qualquer coisa, que quem está atrás passa a maior parte do tempo tentando chegar na frente pra ver o que está acontecendo, e logo percebe que não consegue entender nada, tempo perdido.
Outro dia um velho professor de filosofia resolveu inovar, parou o seu carro no Relógio de São Pedro, abriu a mala do veículo, uma adaptação de trio elétrico e começou a ministrar uma aula, a surpresa foi que ninguém ficou ao redor, ou melhor, uma mendiga seminua, dançando arrocha ao som das explicações da teoria freudiana. Passados cinqüenta minutos, o professor desistiu e revoltado gritou no microfone, “liberta-te ó meu burro povo!”. Mas, o professor não saiu sem nada, ele ganhou algo, coisa de valor, certamente receberá em sua casa o prêmio, uma multa aplicada pela viatura da SET (Superintendência de Engenharia de Tráfego).
* Leonardo Parente
Trabalho e estudo no Centro de Salvador e nesse exato momento em que escrevo, uma passeata segue a Avenida Sete de Setembro. São manifestações contra o arrocho salarial, enquanto isso, uma loja de confecções que dispõe de duas caixas gigantes de som na sua porta, toca arrocha bastante alto pra chamar a freguesia. Do meu lado o presidente da minha instituição fala aos berros com alguém que o irritara, paralelo a isso tudo, o “Word” fecha a todo o momento, depois de disparar na tela uma caixa exibindo uma crítica de erro, tudo corre contra, mas mesmo assim eu não desisto e continuo escrevendo.
E por falar em centro de Salvador, devo dizer que já estou sinceramente de saco cheio. A todo o momento explodem manifestações sem sentido, sem embasamento, sem organização, sem alma. Comerciantes que buscam eternamente algo que nunca alcançam, negros radicais que brigam contra a aprovação da lei da maioridade penal, sob justificativa que isso atinge diretamente a população negra. Ora bolas me economize. Sem contar nos camelôs que tomam as ruas vendendo DVD de três reais, maçã de um real, pano de prato, presilha, boné, a porra toda.
As pessoas não reparam por onde andam, chocando-se contra você o tempo todo, hipnotizam-se por vitrines, entopem os shoppings, mesmo sem ter nem um centavo no bolso pra comprar um chiclete big-big ou acotovelem-se pra ver Hollifield ou Zebim numa transmissão ao vivo para a TV Aratu, no programa do Bocão, mesmo que para isso precise chegar atrasados em seus trabalhos, levar “mijada” do patrão e ainda reclamar que é incompreendido e “ômilhado”.
Tenho pena da população baiana. Se você parar no meio da rua e começar a plantar bananeira é um motivo para que logo se aglomere uma multidão ao seu redor, curiosos em presenciar tal feito, mesmo que eles não entendam bulhufas do que está acontecendo e na maioria das vezes é isso que acontece, tanta gente se aglomera ao redor de qualquer coisa, que quem está atrás passa a maior parte do tempo tentando chegar na frente pra ver o que está acontecendo, e logo percebe que não consegue entender nada, tempo perdido.
Outro dia um velho professor de filosofia resolveu inovar, parou o seu carro no Relógio de São Pedro, abriu a mala do veículo, uma adaptação de trio elétrico e começou a ministrar uma aula, a surpresa foi que ninguém ficou ao redor, ou melhor, uma mendiga seminua, dançando arrocha ao som das explicações da teoria freudiana. Passados cinqüenta minutos, o professor desistiu e revoltado gritou no microfone, “liberta-te ó meu burro povo!”. Mas, o professor não saiu sem nada, ele ganhou algo, coisa de valor, certamente receberá em sua casa o prêmio, uma multa aplicada pela viatura da SET (Superintendência de Engenharia de Tráfego).
* Leonardo Parente
Foto: www.javier.com.br